A oração é o
primeiro lugar
onde se aprende a esperança
Primeiro
e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração.
Quando
já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com
ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais
ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma
expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se
me encontro confinado numa extrema solidão... o orante jamais está totalmente
só.
Dos
seus 13 anos de prisão, nove dos quais em isolamento, o inesquecível Cardeal
Nguyen Van Thuan deixou-nos um livrinho precioso: Orações de esperança. Durante
13 anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de
Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança,
que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo
uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo
nas noites da solidão.
De
forma muito bela Agostinho ilustrou a relação íntima entre oração e esperança,
numa homilia sobre a Primeira Carta de João. Ele define a oração como um
exercício do desejo. O homem foi criado para uma realidade grande ou seja, para
o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração é demasiado
estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser dilatado.
(...)
Depois
usa uma imagem muito bela para descrever este processo de dilatação e
preparação do coração humano.
«Supõe que Deus queira encher-te de mel (símbolo
da ternura de Deus e da sua bondade). Se
tu, porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel?»
O
vaso, ou seja, o coração deve primeiro ser dilatado e depois limpo: livre do
vinagre e do seu sabor. Isto requer trabalho, faz sofrer, mas só assim se
realiza o ajustamento àquilo para que somos destinados. Apesar de Agostinho
falar diretamente só da receptividade para Deus, resulta claro, no entanto, que
o homem neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não
se torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. De facto, só
tornando-nos filhos de Deus é que podemos estar com o nosso Pai comum
Orar
não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria
felicidade. O modo correto de rezar é um processo de purificação interior que
nos torna aptos para Deus e, precisamente desta forma, aptos também para os
homens. Na oração, o homem deve aprender o que verdadeiramente pode pedir a
Deus, o que é digno de Deus. Deve aprender que não pode rezar contra o outro.
Deve aprender que não pode pedir as coisas superficiais e cómodas que de
momento deseja – a pequena esperança equivocada que o leva para longe de Deus.
Deve purificar os seus desejos e as suas esperanças. Deve livrar-se das
mentiras secretas com que se engana a si próprio: Deus perscruta-as, e o contato
com Deus obriga o homem a reconhecê-las também.
«
Quem poderá discernir todos os erros?
Purificai-me
das faltas escondidas », reza o Salmista (19/18,13).
O
não reconhecimento da culpa, a ilusão de inocência não me justifica nem me
salva, porque o entorpecimento da consciência, a incapacidade de reconhecer em
mim o mal enquanto tal é culpa minha. Se Deus não existe, talvez me deva
refugiar em tais mentiras, porque não há ninguém que me possa perdoar, ninguém
que seja a medida verdadeira. Pelo contrário, o encontro com Deus desperta a
minha consciência, para que deixe de fornecer-me uma auto justificação, cesse
de ser um reflexo de mim mesmo e dos contemporâneos que me condicionam, mas se
torne capacidade de escuta do mesmo Bem.
Bento
XVI
Spe
Salvi
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