Presenteamos nossos amigos e amigas neste espaço com a bonita e leve meditação do Santo Padre, o Papa Bento XVI, feita na semana de abertura do Advento desde ano em Roma. Vale a pena meditar aspectos descuidados por nossa agitação crescente e que o Papa lembra de forma muito clara e precisa. Leiamos:
O significado
da expressão "advento" inclui também o de visitatio que, simples e
propriamente, quer dizer "visita"; neste caso, trata-se de uma visita
de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim.
Na existência
quotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e
pouco tempo também para nós. Terminamos por ser absorvidos pelo
"fazer". –
- Não é
porventura verdade que com frequência é precisamente a atividade que nos
possui, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa
atenção?
-Não é talvez
verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distrações de vários tipos? Às
vezes, a realidade "arrebata-nos".
O Advento,
este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir
silenciosamente para compreender uma presença. Trata-se de um convite a
compreender que cada um dos acontecimentos do dia é um sinal que Deus nos faz,
um vestígio da atenção que Ele tem por cada um de nós.
Quantas vezes
Deus nos faz sentir algo do seu amor!
Manter, por
assim dizer, um "diário interior" deste amor seria uma tarefa bonita
e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar
o Senhor que está presente.
- Não deveria
porventura a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos
diferentes?
- Não deveria
acaso ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma
"visita", um modo como Ele pode vir ter conosco e estar ao nosso lado
em cada situação?
Outro elemento
fundamental do Advento é a espera, expectativa que é ao mesmo tempo esperança.
O Advento leva-nos a compreender o sentido do tempo e da história como
"kairós", como ocasião favorável para a nossa salvação. Jesus
explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos
servos convidados a esperar o retorno do dono; na parábola das virgens que
esperam o esposo; ou naquelas da sementeira e da colheita.
Na sua vida, o
homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é
adulto, tende para a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao
merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado
pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para
esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é
animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida,
acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não
distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça
e de paz.
No entanto,
existem modos muito diferentes de esperar. Se o tempo não foi preenchido por um
presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável;
se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja, se o presente
permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a
expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece
totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada
instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da
espera torna o presente mais precioso.
Queridos
irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos
os dons do Senhor, vivamo-lo projetados para o futuro, um porvir repleto de
esperança. Deste modo, o Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós
o autêntico sentido da espera, voltando ao coração da nossa fé que é o mistério
de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de
Belém.
Quando veio ao
meio de nós, trouxe-nos e continua a oferecer-nos o dom do seu amor e da sua
salvação. Presente entre nós, fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada
Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana
e em toda a criação, que muda de aspeto se Ele se encontra por detrás dela, ou
se a mesma está ofuscada pela neblina de uma origem incerta ou de um futuro
inseguro.
Por nossa vez,
podemos dirigir-lhe a palavra, apresentar-lhe os sofrimentos que nos afligem a
impaciência e as interrogações que brotam do nosso coração. Estamos persuadidos
de que nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum sem
sentido e vazio. Se Ele está presente, podemos continuar a esperar mesmo quando
os outros já não conseguem garantir-nos qualquer apoio, até quando o presente
se torna cansativo.
Queridos
amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por
esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo
interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. A alegria pelo facto de que Deus
se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a
caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria,
por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do
seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e
diligentes na esperança.
Papa Bento XVI – Advento de 2012
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